Constatação

Sentir a dinâmica da vida não é fácil: um giro forte a cada ciclo que se fecha, para o outro iniciar. Como a visão, que se apresenta em outros tons a cada piscar de olhos, a vida renasce a cada desejo de renovação, no tempo ilusório do nosso oceano de certezas incertas.

Caminhos...

Penso que a vida de todo e qualquer ser humano seja recheada de reentrâncias luminosas que descobrimos a cada mordida do viver. Todo o restante é breu, a anti-luz que nos desorienta. Como um brinquedo, a vida nos entretém com seus momentos de prazer e dor – é claro, com um mecanismo que se configura muito mais complexo que simples baterias ou quaisquer sistemas de molas.

Não apreender e desfrutar das inúmeras situações que a vida nos oferece seria negar viver. Fatalmente ainda assim estaríamos a fazê-lo: não como aprendizes em busca de nossa potencialidade máxima através do exercício constante de exercer a nós mesmos, mas como exterminadores de nossa força singular, rejeitando nossa grandiosidade cósmica.

É preciso valorizar cada respiro, o piscar dos olhos – ainda que molhados pela dor –, o toque suave do vento sobre a pele, os aromas doces dos sabores mais sensuais. E tatear a vida com a força de um cego que reconhece a si mesmo na escuridão, sem perder a doçura como o olhar inocente envolvido pelo encantamento do mágico, no nascer diário de sua dose de ilusão.