Medidas

Quantas vidas cabem na mão da areia?
Quantas possibilidades bebem aromas improváveis?
Quantos sentidos contêm as flores em copos náufragos?
Quantos olhos possuem a beleza?
Quantos hemisférios encontram-se em órbita?
Quantos respiros recaem sôfregos?
Quantos meta-amores construíram caminhos?

...

Quantos em quantos sonhos me perderam um dia?

Poente

O horizonte abastou-se de cores durante a vida. Agora poente, esta jazia reconfortada na gama de visões estéreas dos tons obsoletos. Houve, porém, moldura em seu caminhar. E sua memória configurava-lhe sorrisos luminescentes em cada quarto de hora em que a chuva apagava de outono a percepção de se existir. Nada lhe perturbava a paz senão a ensurdecedora fragrância de luz, que lhe jorrava o corpo etéreo de partículas refletoras das sensações. Tudo quanto continha a vida, a morte ousou conter.

O esquálido quadrado

O esquálido quadrado
vazio e magro,
nasceu em finas linhas
da ponta de um globo de tinta.

Firmou-se na fortaleza
de sua dupla dimensão:
tanto a qual lhe proveio,
quanto a que o olho enxergava

Seu vazio era robusto
sempre preenchido de ausência;
sua simetria esguia
entediava-lhe a forma.

Quis romper a estrutura
que lhe configurava sem sorte;
crescer em dimensão,
expandir os sentidos.

Seu pulmão rígido
encheu-se de eco,
respirou o tudo
inflando o nada.

Conteve a força
que já não o continha:
estourou em mil pedaços.
Fragmentos de linhas
que escaparam pelo branco.

O sorriso colorido

Quando os dias são muitos,
quando as horas são todas,
quando o sol lá no alto
cobre da quente cor
os dias de verão,
é então que meu peito se abre
e eu respiro arco-íris:
o sorriso colorido,
quando o céu me vê.

A caixinha do que é

O que é, cabe em uma caixinha. Habita o estabelecido, alimentando-se da percepção de sua própria existência. Não tem sabor, nem cor: todos os aromas lhe evaporam e se dissipam na saliva do céu da boca; todo o colorido multiplica-se e transforma-se em preto e branco - o avesso e a ausência.
Tudo o que foi, passou pelo fim e voltou. Um lapso de instante no contratempo da memória.

Ensaio de vida (?)

Caem em mim lágrimas coloridas.
A dor do mundo.
Belos e frios, os segundos de vida se espalham, no cenário tragicômico da vida cotidiana.

Ode a um inseto

Poema feito em homenagem ao pequenino inseto que pousou sobre o pratinho de tinta, agora há pouco:

Era pequeno, inseto voador
de asinhas minúsculas.
Descobriu as mais belas
e colossais paisagens.
Pousou na tinta
ainda úmida sob o prato:
Morreu, colorido.

As sementes dos desejos

Tenho em mim um espírito fértil. Fosse capaz de gritar, proliferariam os mais belos frutos das árvores mais abastadas do Universo. Meu espírito é fértil: a terra que me sustenta é minha consciência, plural e colorida, ondas sonoras de alegrias Afrotropicais. A terra que me sustenta não possui base, pois sua sustentação é a própria consciência de infinitude.

Ser um espírito sem rumo a descobrir e compreender para si novas percepções de sentir, de modo a tornar-se, cada dia, único.

Sobre a Consciência

Será que somos os únicos a dispor de uma consciência hiper desenvolvida porque ainda não estamos em um nível tecnológico realmente relevante que nos permita observar e estudar a consciência (hiper desenvolvida, talvez?) de outras espécies?

Ou será que desenvolvemos essa mesma tecnologia que nos posiciona à frente das outras espécies para que nos sintamos "engradecidos" psicologicamente falando e, assim, num ápice megalomaníaco, sintamos que na realidade possuímos uma consciência relevantemente inferior às demais espécies?

Instinto huma(nimal)


Falsas, santas as corroborações, teorias e dilemas.
E, no entanto, o instinto humano perfaz-se tosco.
Palavra-grito, na hora do gozo.

Afro-sambas da minha demência

A toalha com torrada chacoalha na toada nordestina / dança caboclo, dança menina / a toalha roda, roda e chacoalha / um movimento de cores na retina.
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O João Capulê pula o cordão / ele pula, pula maquê / ele salta, ele gira / o João Capulê dança o baque do tamborim / ele salta, ele gira / Capulê, João pula e salta num movimento sem fim.
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Timba maquê / mexe no cassulê / ginga no seu balanço / sente o ritmo do gingado / Timba maquê / bota mais sal e dendê / no seu balançar de menino.
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Pega na vida, ô menino / como o pai pega o timão / navega na vida, ô menino / vê o seu balançar / Dança o viver, vive a dançar / Nego que sai da roda da vida / Nunca aprende a amar.

A "mídia consciência"

As mídias estão ficando claustrofóbicas. De nossa mente é cobrada a verdadeira expansão. O intumescer da consciência cósmica para a explosão de ritmos frenéticos de ideais diários nascidos da necessidade de apenas ser.

A mídia consciência é o suporte de nossa vanguarda pessoal. Permitir-se é optar pelo viver, e não pelo sobreviver. Os porões do conservadorismo estão todos cheios de breu e reticências... O que eu quero é imaginar a vida, criar minha casa na folha de Universo onde eu possa redescobrir a mim mesma. O que eu quero é me ultrapassar, mas num ritmo em que eu consiga me acompanhar.