Fragmento

Poucas passagens de minha infância foram realmente marcantes a ponto de fazer minha saudade chorar. Uma das cenas mais inesquecíveis aconteceram aos meus seis pequenos anos de idade: as tardes nas quais desenhava sobre o chão de madeira da sala, no apartamento em que morei com minha mãe. Dourados pela luz entardecida, os tacos de madeira eram os co-autores do papel branco - o universo sob o qual eu coloria a vida - marcando os meus rabiscos por baixo, com suas divisões, embalados pela cadência de Chico Buarque tocando na antiga vitrola...