Sobre o menino que andava sobre a pele dele mesmo

Hoje meu dia amanheceu assim meio galático. Ontem à noite andei por entre chãos de buracos vazios e cheios de ar. Eu me contive para não morrer de medo, pois a cada passo eu tinha a sensação de que cairia em algum deles e seria o fim do meu fim. Ao mesmo tempo, essa leve insegurança tátil não me prendia ao solo. Eu me sentia tão livre quanto o ar, que dançava por entre meu corpo. E eu queria mais. Porque, diferentemente dos chãos habituais pelos quais já havia andado, aquele novo chão possuía algum macio recheado, confortante. Era como se andasse por cima de enormes colchões d'água, que oscilam em sutis movimentos a cada passo que se ousa alcançar.

Em minhas descobertas noturnas eu também pude sentir uma luz asfixiante. Nela continham partículas ultradimensionais cósmicas, que proporcionavam uma cegueira direta, dura. Foi essa luz que guiou meu todo durante o percurso. E os meus olhos... definitivamente meus olhos não eram mais os mesmos. Ou, ainda que fossem os mesmos olhos, minha visão era distinta e subia, a cada passo, os degraus mais altos de minha equívoca compreensão.

Eu caminhei durante toda a noite sob a fluidez embriagante do chão e da luz. Eu existia ao redor de tudo o que eu era. Enquanto eu estiver vivendo, eu sei que estarei vivo. 

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