Breve Exegese do Excesso

Eu, filha única de pais separados, vivi boa parte da minha infância e adolescência rodeada de adultos. Desde então, espalhei-me em meu próprio eu. Sozinha em meu universo, construído pelo meu espírito lúdico, criativo, imergi quase totalmente nesse mundo, oxigenando-me de certezas inatingíveis, sonhos improváveis e medos coloridos. E era em minha imensa mandala de ideias onde eu refugiava minha vida e meus sentimentos, escondendo-os do mundo real, para que não fossem roubados ou esmagados por alguma formiga.

Reconfortava-me a proteção daquele útero mandálico recheado de texturas, cores e padrões... Não tinha com o quê me preocupar, a não ser qual seria meu próximo sonho. Selecionava instintivamente quais seriam os próximos frames para compor meu universo.

Mas um dia, a vida real bateu em minha porta e eu a convidei para entrar. Foi aí que tudo o que eu acreditava até então desabaria em minha frente... Definitivamente, não sou mais quem um dia eu fui. Hoje me sinto mais feliz, mais equilibrada e muito mais determinada, focada em mim, em minha nova vida.

Sou (acho que sempre serei) uma pessoa cujo coração precisa de excessos. Sou da arte, da densa camada do Cosmos. Sou todas as cores. Gosto do complexo, da transcendência. Acredito que por isso mesmo, poucos suportem e compreendam essa minha natureza etérea e essa minha personalidade "difícil". Eu não quero a superfície. Quero mergulhar, buscar o novo, descobrir o impenetrável. É isso que enriquece minha vida e alimenta minha essência.

As cores que eu respiro das águas profundas do meu oceano se transformam em um querer latente de colorir o mundo todo.

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