uni versos


uni versos.
que conste lá no caderninho de poemas das verdades avessas:
vêm em milhões as letras que iluminam o céu da boca.

E agora?

Sempre vou achar Déjà vu um troço muito divertido. Conforme os fatos vão acontecendo e sinto que "eu já vi isso antes", minha cabeça fica doidinha tentando descobrir o acontecimento "previsto" posterior. Durante um Déjà vu é como ser uma criança de mãos dadas com a vida. Um pequeno ser que, durante o passeio, levanta a cabeça lá pro alto, pro olhar alcançar a mãe, e pergunta: "E agora?"

Unidade de medida

Não se meça pelo outro. A única medida de comparação com você é você mesmo. A gente só se torna inteiro quando aceita os próprios vazios.

Experimentar a vida

A vida é como uma grande teia de possibilidades infinitas, que vai se construindo na medida em que vivemos nossas experiências diárias. Experimentar a vida, torná-la um grande laboratório de sentidos é, por sinal, uma das coisas mais fascinantes e desafiadoras a que temos direito. E você, tem coragem?

Verdade

Uma planta, um peixe, um homem... Cada ser que respira aspira pela verdade - a sua verdade. A minha, como uma menina levada, brinca de esconder meu jeito mais sério e, teimando em fitar-me diariamente, reflete em mim a eterna fugacidade do instinto humano.

A coragem do coração

CORAGEM (do latim "coraticum") significa agir com o coração.
O sentimento é, assim, a arma de todo ato corajoso.

Máquina de escrever

Quando era criança eu adorava escrever. Passei diversas tardes durante os finais de semana escrevendo na velha máquina de datilografar do meu avô. Eu adorava escrever naquela máquina: adorava o barulho das teclas pesadas batendo no papel e registrando minhas histórias, sempre surreais e dramáticas - especialmente quando o rolo de fita preto e vermelho era novo, porque o cheiro era forte. Por sinal, cheiro melhor que este só mesmo o de livro novo.

Influências e possibilidades

Influências não alimentam a gente de beleza, ou raiva, angústia, medo (estas todas são designações relativas ao tempo em que se vive). Influências nos alimentam de possibilidades: o inesperado torna-se desejado, o intangível torna-se palpável. Cores, formas, palavras e sons são ingredientes que definitivamente engordam nosso cerebelo.

A infância

Infância... Esta palavrinha invadiu meu pensamento ontem. Eis que ela desenvolveu sua própria definição etimológica. Não sei se ela estava apenas brincando, mas foi assim que ela me ensinou: "in" (do inglês, "dentro"); "fân" (corruptela de "fun"; do inglês, "diversão"); ânsia, desejo. Assim, a "infância" acredita ser a ânsia pelo divertimento. Eu dei minha mão a ela e ela me revelou: "Anna, sempre estarei com você." Foi aí que compreendi que a infância está presente em todos os estágios da vida humana; é companheira fiel de quem anseia pela diversificação dos pensamentos da mente: o divertimento. Ela é como um jogo feito especialmente para crianças entre zero e infinitos anos.

O que de fato é

No princípio era o Pai, era o Filho, era o Santo Espírito.
Eram todas as coisas das coisas que podia ser;
Era a imensidão da fé em ser o que das coisas era e,
não sendo o Pai Espírito e o Filho Santo, mas sim seu avesso,
(o das não-coisas), terminou por ser o que, de fato, era.

Ideia palavra

Peguei-me sentindo as palavras, respirando ideias. Antes, raras. Hoje, muitas. Dançam sobre mim. Gosto assim: palavras e ideias, sentidas de uma só vez, como o susto que se tem ao perceber o voar da borboleta sobrevoando nossa cabeça, a eriçar os fios.

O risco da vida

Para a liberdade proporcionada pelo voar, o pássaro precisa abdicar do conforto e segurança que o ninho lhe proporciona. O frescor que a chuva de verão nos possibilita só acontece porque primeiro houve uma tempestade. Para sermos nós - essencialmente nós - precisamos viver. E viver implica em correr riscos.

Um conto chinês


Uma vaca, um chinês, um argentino e muitas lembranças… e assim nasce "Um conto chinês" de Borensztein. Roberto de Cesare é um personagem denso e fragmentado: não carrega apenas o mesmo nome de seu pai, como também suas dores, alimentando memórias de um passado repleto de perdas. Sua vida milimetricamente sistemática é interrompida quando encontra Jun. Apesar dos problemas de comunicação gerados a partir do encontro de duas culturas diametralmente opostas o que os une é a dor da perda. 

Assim como um vaso de porcelana chinês, de grande valia, frágil e de incomensurável beleza, assim também me parece ser a vida.

Essência

Meu mundo é dos bolos trufados ao final da tarde. É dos doces e dos salgados. Dos olhos e da boca. Do tato que se ouve e do cheiro que alimenta. Dos carrosséis e das mandalas. Meu mundo é das ansiedades do porvir e da água que hidrata as vicissitudes. É dos minutos a mais que se demora na cama e do precioso afago que se recebe em um dia difícil. É da imensidão das vontades. É do sorriso contido e das bochechas que o sangue faz corar. Meu mundo é um mundo em que o tudo está contido.

Fragmento

Poucas passagens de minha infância foram realmente marcantes a ponto de fazer minha saudade chorar. Uma das cenas mais inesquecíveis aconteceram aos meus seis pequenos anos de idade: as tardes nas quais desenhava sobre o chão de madeira da sala, no apartamento em que morei com minha mãe. Dourados pela luz entardecida, os tacos de madeira eram os co-autores do papel branco - o universo sob o qual eu coloria a vida - marcando os meus rabiscos por baixo, com suas divisões, embalados pela cadência de Chico Buarque tocando na antiga vitrola...

Defeito ou qualidade?

Não saberia dizer se configura defeito ou qualidade o excesso de sentimento que meu peito protege e embala. Quando amo ou quando odeio, não os faço. Venerar é meu modus operandi.

Côncavo e convexo

Não saberia dizer se haveria de ser por mera coincidência lingüística o lúcido e o lúdico possuírem significados que se completam e existam tanto na função quanto na forma. Isso porque os signos visuais "c" e "d" ordenam-se de modo sutil em cada uma dessas palavras, propondo-lhes interpretações distintas.

O que é lúcido ilumina nossa percepção e acende a luz no convexo figurativo. Dentro dele, a vida guarda-se inteira preservando cuidadosamente os acontecimentos e as conseqüências da ação. O lúcido amplamente expande-se em sua sólida lógica. O lúcido é o porvir do sonho, berço para a confecção das possibilidades.

O lúdico, destemido de viver o sonho, respira no côncavo o que dentro dele flutua. Possui todas as cores e é abastado de mundo. Um ventre fecundo que impermeabiliza a realidade de outras existências. O lúdico abriga o habitat do imaterial tangível e se recria. O lúdico guarda no tempo o tempo que não há.

A semi-suspensão da virtualidade

Minhas pernas aprenderam finalmente a caminhar.
Alternam-se relativamente bem, uma e outra,
no mesmo ritmo da gota repetente que pula pela torneira.

Meu corpo vai, com cuidado, delineando novos traços -
ele delimita, assim, a futura pausa.
O que penso, já penso bem.
Respeito os ruídos do que sinto.

O primeiro cardume nasceu na imensidão
de água profunda que há em mim.
Mas há apenas um buraco na areia
para onde tudo vai escoar...

Filosofia de bar

Eu ainda prefiro as discussões filosóficas das mesas de bar. Preferencialmente as que são protegidas pelos santos gelados, pois são eles que despertam em nós o conhecimento profundo sobre a falta dele todo.

Poema em folha menor

Em meio às folhas
caíram meus olhos
derramando sob elas
minhas visões do mundo.
Enquanto respiravam,
as gotas escorriam por sobre
a pele verde clorofilada.
Insuspeita natureza,
de lágrimas em compassos,
rodando em meu micro-universo.
E tudo o que era meu, partiu-se:
fluídos coloridos transcenderam no etéreo.

Sobre o que desconheço

Anseio pelo que ainda não conheço. Sendo assim, não posso amar, nem odiar. Apenas desconheço. Experimento o sabor mais verdadeiro do que, embora inexista fisicamente, possui a máxima, a completude que somente o tempo proporciona.

Azul-índio

O índio azul
destituía-se
de toda a sua passagem
pelo Meridiano.

E quanto mais quente,
mais arco-sol ele plantava
na superfície da consequência.

Antropofagia pescada

O velho pescador
derramava sua mão
sobre a rede.

Longo e bem tramado
era o leito oscilante,
que dançava no mar.

Em cada respiro
ele vigiava o micromundo
capturador dos peixes.

Tal como uma bailarina
em rodopios sôfregos
colhia as frutas do imenso.

As carnes brancas cintilavam
sob o sol das tardes vazias
morrendo aos pulos.

Quanto espaço possuía
cada universo daquela trama
em que escaparia o quântico?

Pouco espaço resistia
em prender todos os peixes
na molhada morte.

Uma vida diminuia.
A outra, humana,
engrandecia-se.

E o pôr-do-sol anunciava
na horda de luzes
o próximo futuro pescado...

Eu estou alguém

Eu estou alguém. Na beira da possibilidades, esquinando um futuro de vida.
Eu estou alguém entre o acaso e o palpável, na epiderme do meu campo tátil.
Renovada, reciclada, refeita. Meu rarefeito efêmero, outrora, pôs-se feito de raridades. Hoje é ocaso.
Eu estou alguém de fero instinto. Andarilha sobre o caminho que se faz a medida em que eu faço o caminho.
E caminho. Mais um pouco.

Sobre o menino que andava sobre a pele dele mesmo

Hoje meu dia amanheceu assim meio galático. Ontem à noite andei por entre chãos de buracos vazios e cheios de ar. Eu me contive para não morrer de medo, pois a cada passo eu tinha a sensação de que cairia em algum deles e seria o fim do meu fim. Ao mesmo tempo, essa leve insegurança tátil não me prendia ao solo. Eu me sentia tão livre quanto o ar, que dançava por entre meu corpo. E eu queria mais. Porque, diferentemente dos chãos habituais pelos quais já havia andado, aquele novo chão possuía algum macio recheado, confortante. Era como se andasse por cima de enormes colchões d'água, que oscilam em sutis movimentos a cada passo que se ousa alcançar.

Em minhas descobertas noturnas eu também pude sentir uma luz asfixiante. Nela continham partículas ultradimensionais cósmicas, que proporcionavam uma cegueira direta, dura. Foi essa luz que guiou meu todo durante o percurso. E os meus olhos... definitivamente meus olhos não eram mais os mesmos. Ou, ainda que fossem os mesmos olhos, minha visão era distinta e subia, a cada passo, os degraus mais altos de minha equívoca compreensão.

Eu caminhei durante toda a noite sob a fluidez embriagante do chão e da luz. Eu existia ao redor de tudo o que eu era. Enquanto eu estiver vivendo, eu sei que estarei vivo. 

Breve Exegese do Excesso

Eu, filha única de pais separados, vivi boa parte da minha infância e adolescência rodeada de adultos. Desde então, espalhei-me em meu próprio eu. Sozinha em meu universo, construído pelo meu espírito lúdico, criativo, imergi quase totalmente nesse mundo, oxigenando-me de certezas inatingíveis, sonhos improváveis e medos coloridos. E era em minha imensa mandala de ideias onde eu refugiava minha vida e meus sentimentos, escondendo-os do mundo real, para que não fossem roubados ou esmagados por alguma formiga.

Reconfortava-me a proteção daquele útero mandálico recheado de texturas, cores e padrões... Não tinha com o quê me preocupar, a não ser qual seria meu próximo sonho. Selecionava instintivamente quais seriam os próximos frames para compor meu universo.

Mas um dia, a vida real bateu em minha porta e eu a convidei para entrar. Foi aí que tudo o que eu acreditava até então desabaria em minha frente... Definitivamente, não sou mais quem um dia eu fui. Hoje me sinto mais feliz, mais equilibrada e muito mais determinada, focada em mim, em minha nova vida.

Sou (acho que sempre serei) uma pessoa cujo coração precisa de excessos. Sou da arte, da densa camada do Cosmos. Sou todas as cores. Gosto do complexo, da transcendência. Acredito que por isso mesmo, poucos suportem e compreendam essa minha natureza etérea e essa minha personalidade "difícil". Eu não quero a superfície. Quero mergulhar, buscar o novo, descobrir o impenetrável. É isso que enriquece minha vida e alimenta minha essência.

As cores que eu respiro das águas profundas do meu oceano se transformam em um querer latente de colorir o mundo todo.

Medidas

Quantas vidas cabem na mão da areia?
Quantas possibilidades bebem aromas improváveis?
Quantos sentidos contêm as flores em copos náufragos?
Quantos olhos possuem a beleza?
Quantos hemisférios encontram-se em órbita?
Quantos respiros recaem sôfregos?
Quantos meta-amores construíram caminhos?

...

Quantos em quantos sonhos me perderam um dia?

Poente

O horizonte abastou-se de cores durante a vida. Agora poente, esta jazia reconfortada na gama de visões estéreas dos tons obsoletos. Houve, porém, moldura em seu caminhar. E sua memória configurava-lhe sorrisos luminescentes em cada quarto de hora em que a chuva apagava de outono a percepção de se existir. Nada lhe perturbava a paz senão a ensurdecedora fragrância de luz, que lhe jorrava o corpo etéreo de partículas refletoras das sensações. Tudo quanto continha a vida, a morte ousou conter.

O esquálido quadrado

O esquálido quadrado
vazio e magro,
nasceu em finas linhas
da ponta de um globo de tinta.

Firmou-se na fortaleza
de sua dupla dimensão:
tanto a qual lhe proveio,
quanto a que o olho enxergava

Seu vazio era robusto
sempre preenchido de ausência;
sua simetria esguia
entediava-lhe a forma.

Quis romper a estrutura
que lhe configurava sem sorte;
crescer em dimensão,
expandir os sentidos.

Seu pulmão rígido
encheu-se de eco,
respirou o tudo
inflando o nada.

Conteve a força
que já não o continha:
estourou em mil pedaços.
Fragmentos de linhas
que escaparam pelo branco.

O sorriso colorido

Quando os dias são muitos,
quando as horas são todas,
quando o sol lá no alto
cobre da quente cor
os dias de verão,
é então que meu peito se abre
e eu respiro arco-íris:
o sorriso colorido,
quando o céu me vê.

A caixinha do que é

O que é, cabe em uma caixinha. Habita o estabelecido, alimentando-se da percepção de sua própria existência. Não tem sabor, nem cor: todos os aromas lhe evaporam e se dissipam na saliva do céu da boca; todo o colorido multiplica-se e transforma-se em preto e branco - o avesso e a ausência.
Tudo o que foi, passou pelo fim e voltou. Um lapso de instante no contratempo da memória.

Ensaio de vida (?)

Caem em mim lágrimas coloridas.
A dor do mundo.
Belos e frios, os segundos de vida se espalham, no cenário tragicômico da vida cotidiana.

Ode a um inseto

Poema feito em homenagem ao pequenino inseto que pousou sobre o pratinho de tinta, agora há pouco:

Era pequeno, inseto voador
de asinhas minúsculas.
Descobriu as mais belas
e colossais paisagens.
Pousou na tinta
ainda úmida sob o prato:
Morreu, colorido.

As sementes dos desejos

Tenho em mim um espírito fértil. Fosse capaz de gritar, proliferariam os mais belos frutos das árvores mais abastadas do Universo. Meu espírito é fértil: a terra que me sustenta é minha consciência, plural e colorida, ondas sonoras de alegrias Afrotropicais. A terra que me sustenta não possui base, pois sua sustentação é a própria consciência de infinitude.

Ser um espírito sem rumo a descobrir e compreender para si novas percepções de sentir, de modo a tornar-se, cada dia, único.

Sobre a Consciência

Será que somos os únicos a dispor de uma consciência hiper desenvolvida porque ainda não estamos em um nível tecnológico realmente relevante que nos permita observar e estudar a consciência (hiper desenvolvida, talvez?) de outras espécies?

Ou será que desenvolvemos essa mesma tecnologia que nos posiciona à frente das outras espécies para que nos sintamos "engradecidos" psicologicamente falando e, assim, num ápice megalomaníaco, sintamos que na realidade possuímos uma consciência relevantemente inferior às demais espécies?

Instinto huma(nimal)


Falsas, santas as corroborações, teorias e dilemas.
E, no entanto, o instinto humano perfaz-se tosco.
Palavra-grito, na hora do gozo.

Afro-sambas da minha demência

A toalha com torrada chacoalha na toada nordestina / dança caboclo, dança menina / a toalha roda, roda e chacoalha / um movimento de cores na retina.
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O João Capulê pula o cordão / ele pula, pula maquê / ele salta, ele gira / o João Capulê dança o baque do tamborim / ele salta, ele gira / Capulê, João pula e salta num movimento sem fim.
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Timba maquê / mexe no cassulê / ginga no seu balanço / sente o ritmo do gingado / Timba maquê / bota mais sal e dendê / no seu balançar de menino.
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Pega na vida, ô menino / como o pai pega o timão / navega na vida, ô menino / vê o seu balançar / Dança o viver, vive a dançar / Nego que sai da roda da vida / Nunca aprende a amar.

A "mídia consciência"

As mídias estão ficando claustrofóbicas. De nossa mente é cobrada a verdadeira expansão. O intumescer da consciência cósmica para a explosão de ritmos frenéticos de ideais diários nascidos da necessidade de apenas ser.

A mídia consciência é o suporte de nossa vanguarda pessoal. Permitir-se é optar pelo viver, e não pelo sobreviver. Os porões do conservadorismo estão todos cheios de breu e reticências... O que eu quero é imaginar a vida, criar minha casa na folha de Universo onde eu possa redescobrir a mim mesma. O que eu quero é me ultrapassar, mas num ritmo em que eu consiga me acompanhar.

Constatação

Sentir a dinâmica da vida não é fácil: um giro forte a cada ciclo que se fecha, para o outro iniciar. Como a visão, que se apresenta em outros tons a cada piscar de olhos, a vida renasce a cada desejo de renovação, no tempo ilusório do nosso oceano de certezas incertas.

Caminhos...

Penso que a vida de todo e qualquer ser humano seja recheada de reentrâncias luminosas que descobrimos a cada mordida do viver. Todo o restante é breu, a anti-luz que nos desorienta. Como um brinquedo, a vida nos entretém com seus momentos de prazer e dor – é claro, com um mecanismo que se configura muito mais complexo que simples baterias ou quaisquer sistemas de molas.

Não apreender e desfrutar das inúmeras situações que a vida nos oferece seria negar viver. Fatalmente ainda assim estaríamos a fazê-lo: não como aprendizes em busca de nossa potencialidade máxima através do exercício constante de exercer a nós mesmos, mas como exterminadores de nossa força singular, rejeitando nossa grandiosidade cósmica.

É preciso valorizar cada respiro, o piscar dos olhos – ainda que molhados pela dor –, o toque suave do vento sobre a pele, os aromas doces dos sabores mais sensuais. E tatear a vida com a força de um cego que reconhece a si mesmo na escuridão, sem perder a doçura como o olhar inocente envolvido pelo encantamento do mágico, no nascer diário de sua dose de ilusão.

O Tempo

No balanço da vida ouço os ruídos do tempo. O que foi, o que é e o que será. Um infinito de possibilidades no profundo oceano de incertezas. O tempo é algo tão fugidio quanto a areia que a mão esmaga e os desejos de um tempo se opõem aos de outro momento: diferentes as vontades e medos, outras sensações...

O que pesa mais na balança da vida para seu equilíbrio: a sapiência de um velho ou o frescor de um jovem? O rubor e a vitalidade de quem anseia pelo inesperado ou a calma do monge que já conhece a trajetória?

Orientar-se pela sensação mais pura que pode o coração transmitir como o líquido da vida que corre pelas veias. Sentir-se vivo e extasiar-se com o frenético músculo que pulsa bombeando emoções e gera energia. Redescobrir-se.

Forte e maduro como o fruto, que está finalmente pronto para o novo caminho. Num mesmo plano, o tempo escorre em diferentes intensidades. Anda, engatinha ou corre, de acordo com o trajeto que faz o homem. A vida é o que acontece enquanto se esvai pelas mãos a areia do tempo.